5.002
© Correio da Manhã/ Acervo Arquivo Nacional
Nome Artístico
Cartola
Nome verdadeiro
Angenor de Oliveira
Data de nascimento
11/10/1908
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
30/11/1980
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor. Cantor. Violonista.

Nascido na rua Ferreira Vianna, no Catete, era o primogênito dos oito filhos do casal Sebastião e Aída. Apesar de ter recebido o nome de Agenor, foi registrado como Angenor. Mas esse fato ele só viria a descobrir muitos anos mais tarde, ao tratar dos papéis para seu casamento com D. Zica, nos anos de 1960. A partir de então, para não ter que providenciar a mudança do nome no cartório, passou a assinar oficialmente seu nome como Angenor de Oliveira. Ainda na infância, mudou-se com a família para o bairro das Laranjeiras, onde entrou em contato com os ranchos União da Aliança e Arrepiados. Neste último, tocava um cavaquinho que lhe fora dado pelo pai quando tinha somente 8 ou 9 anos de idade. Seu entusiasmo por esse rancho era tanto que, mais tarde, ao participar da fundação da Escola de Samba  Estação Primeira de Mangueira, em abril de 1928, sugeriu que aquela agremiação tivesse as mesmas cores do rancho Arrepiados: verde e rosa. Desde então, essas duas cores passaram a formar um símbolo dos mais reverenciados no mundo do samba.

Na verdade, soube depois por Carlos Cachaça, que existira no Morro da Mangueira um antigo rancho de carnaval com o nome de Caçadores da Floresta, cujas cores eram exatamente o verde e o rosa. Em 1919, foi morar no Morro da Mangueira, aos 11 anos de idade. Sua família passava, então, por dificuldades financeiras. Pouco depois, começou a travar amizade com um outro morador da Mangueira, Carlos Cachaça, seis anos mais velho, e que se tornaria, além de amigo por toda a vida, o seu parceiro mais constante em dezenas de sambas.

Fez o curso primário. Após a morte de sua mãe, abandonou os estudos para trabalhar, ao mesmo tempo em que se inclinava para a vida boêmia. Durante a adolescência trabalhou numa tipografia e também como pedreiro. Vem daí o apelido com que se tornaria reconhecido como um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira: enquanto trabalhava nas obras de construção, para que o cimento não lhe caísse sobre o cabelo, resolveu passar a usar um chapéu- de- côco que os colegas diziam parecer mais uma cartolinha. Assim, começou a ser chamado de “Cartola”. Nessa época, conheceu Deolinda, mulher sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois anos. Certa vez, se sentiu doente e Deolinda, vizinha do barraco ao lado, se oferece para cuidar dele. Os dois acabam se envolvendo. Tinha na época apenas 18 anos e estava morando sozinho. Decidem viver juntos e Deolinda deixa o marido, levando a filha que o compositor irá criar como sua. Sob seu teto e de Deolinda, Noel Rosa foi se abrigar algumas vezes, à procura de um refúgio tranqüilo, como contam João Máximo e Carlos Didier em “Noel Rosa, uma biografia”.

Participou da formação do Bloco dos Arengueiros, em 1925, que viria a ser o embrião da Mangueira.  Em 1946, aos 38 anos de idade, contraiu meningite e ficou impossibilitado de continuar a trabalhar por um longo tempo. Com a morte de Deolinda, deixou o Morro da Mangueira, afastando-se do mundo do samba, por cerca de dez anos. Conseguiu trabalhos modestos, como o de lavador de carros e vigia de edifícios. Era esse o seu ofício, em meados dos anos 1950, num edifício em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. Numa noite de 1956, em que resolveu beber um café num botequim próximo ao edifício onde trabalhava, encontrou o escritor Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que imediatamente o reconheceu. Ao ver o compositor naquele macacão, molhado, o escritor decidiu ajudá-lo. Na ocasião, era dado como desaparecido ou mesmo morto, por muitos de seus conhecidos e admiradores. O reencontro com Sérgio Porto foi definitivo para a retomada de sua carreira como músico e compositor.

Começou a participar de programas na rádio Mayrink Veiga e depois foi trabalhar como contínuo no jornal Diário Carioca, por recomendação do cronista e pesquisador Jota Efegê. Empregou, anos depois, como contínuo do Ministério da Indústria e Comércio e teve uma casa em terreno doado pelo Governo do Estado da Guanabara.  No início dos anos 1960,  vivendo com Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, abriu com ela o restaurante Zicartola, num casarão na Rua da Carioca, no Centro do Rio. A iniciativa contou com o apoio financeiro de empreendedores considerados “mangueirenses de coração”, como o empresário Renato Augustini.  A receita para o sucesso do estabelecimento, que se tornaria uma página importante na história da música popular brasileira, era das mais simples e saborosas. Na cozinha, D. Zica comandava o tempero do feijão que lhe tornou famosa, enquanto ele fazia as vezes de mestre de cerimônias, propiciando o encontro entre sambistas do morro e compositores e músicos de classe média. No Zicartola, por exemplo, Paulinho da Viola começou a cantar em público. Em 1964, o Jornal O Globo publicava a seguinte nota: “Cartola e D. Zica marcam casamento: Primeiro, foi o samba que uniu Cartola e Zica, em 1919. Depois, foi o amor, em 1952. Agora, é o sacramento: casam-se às 15h do dia 24 na igreja do Sagrado Coração de Jesus. Como as suas vidas, seus nomes também se uniram para dar identidade ao famoso Zicartola, que passará sem os dois por alguns tempos, pois Cartola e D. Zica estarão em lua-de-mel em São Paulo. Essa terceira etapa na vida do fundador da Mangueira promete ser prolongamento da segunda, pois D. Zica diz que Cartola sempre foi bom companheiro e a ideia de oficializar a união partiu dele”. Em 1978, transferiu-se da Mangueira para uma casa em Jacarepaguá, mas sempre voltava para visitar os amigos no morro onde crescera e se tornara famoso. Em 1979, descobriu que estava com câncer, doença da qual viria a morrer no ano seguinte, aos 72 anos de idade. Após o velório na quadra da Estação Primeira de Mangueira, seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju. Durante os anos seguintes, viriam homenagens póstumas, discos e biografias que o confirmariam como um dos maiores nomes da música popular brasileira. Quando soube que o compositor se encontrava doente o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu crônica no Jornal do Brasil na qual dizia: “A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira (e não Agenor, como dizem os descuidados) é patente quer na composição, quer na execução. Como bem me observou Jota Efegê, seu padrinho de casamento, trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. Os dois conviveram civilizadamente. Ele tem a elegância moral de Pixinguinha, outro a quem a natureza privilegiou com a sensibilidade criativa, e que também soube ser mestre de delicadeza”.

Dados artísticos

Em 1925, com o amigo e parceiro Carlos Cachaça, fundou o Bloco dos Arengueiros, que, três anos mais tarde, ao se unir a outros blocos do Morro da Mangueira, levou à criação, em 28 de abril de 1928, da Estação Primeira de Mangueira. Além dele e Carlos Cachaça, participam da fundação da segunda escola de samba, a primeira havia sido a “Deixa Falar”, fundada por Ismael Silva e Bide, entre outros, no Estácio,  Saturnino Gonçalves, Pedro Caymmi, Marcelino, José Claudino  e Francisco Ribeiro. No mesmo ano, compôs o primeiro samba para um desfile da Mangueira, “Chega de demanda”.

Em 1929, procurado pelo cantor Mario Reis, através de um estafeta chamado Clóvis Miguelão, segundo o pesquisador Luís Antônio Giron, vendeu a ele o samba “Que Infeliz Sorte!”, que acabou sendo gravado, em novembro daquele ano, não por Mario Reis, mas por Francisco Alves, sendo assim, seu primeiro samba gracado. A aproximação com Francisco Alves o tornou conhecido como compositor. Assinava então Agenor de Oliveira. Em 1932, Francisco Alves e Mário Reis gravaram em dueto seu samba “Perdão, meu bem”. Vendeu outros sambas a Francisco Alves, que gravou no mesmo ano o samba “Não faz mal amor”, parceria com Noel Rosa, cujo nome não apareceu no rótulo do disco. Ainda nesse ano, Francisco Alves gravou o samba “Qual foi o mal que eu te fiz”, lançado no ano seguinte, Carmen Miranda o samba “Tenho um novo amor” e Sílvio Caldas o samba “Na floresta”, parceria dos dois.

Em 1933, Francisco Alves gravou o samba “Divina Dama”, que viria a ser usualmente considerado seu primeiro sucesso popular.  Ainda nesse ano, Arnaldo Amaral gravou o samba “Fita meus olhos”, parceria com Osvaldo Vasques. Ao contrário de outros compositores da época, não vendia a autoria das músicas, mas apenas o direito sobre a vendagem dos discos, razão pela qual seus sambas continuavam a sair assinados por ele. Em 1936, Aracy de Almeida gravou na RCA Victor o samba “Não quero mais”, parceria com José Gonçalves, o Zé da Zilda e Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça. No ano anterior, esse samba fora premiado no desfile da Mangueira.

Continuou dedicando-se à Escola de Samba que ajudara a fundar. Sua primeira parceria com Carlos Cachaça, “Pudesse meu ideal”, vence o concurso promovido pelo jornal O Mundo Esportivo. Vieram então alguns anos de sucesso e fama, a amizade e parceria com Noel Rosa, freqüentador de sua casa na Mangueira, as visitas de Villa-Lobos, que se tornou admirador de suas composições e o indicou para participar, em 1940, das gravações regidas pelo maestro Leopold Stokowski a bordo do navio Uruguai, ancorado no cais da Praça Mauá. Na ocasião,  interpretou, ao lado de pastoras da Mangueira, o samba “Quem me vê sorrindo”, parceria com Carlos Cachaça. Dessas gravações regidas por Stokowkski, foram produzidos oito discos de 78 rpm,  registrando, além da sua primeira gravação, o coro da Mangueira com as vozes de D. Neuma e de suas irmãs, a clarineta de Luís Americano, emboladas de Jararaca e Ratinho, a flauta de Pixinguinha, além das participações de Donga e João da Baiana e um arranjo de Villa-Lobos para o tema indígena Canidé Joune.

Passou, então, a cantar no Rádio, interpretando composições próprias e também de outros autores. Juntamente com Paulo da Portela, apresentou, na Rádio Cruzeiro do Sul, o programa “A Voz do Morro”, que lançava sambas ainda inéditos e sem título e no qual os ouvintes é que deviam dar nome aos sambas. Assim, o programa premiava o ouvinte que tivesse sugerido o título escolhido para o samba. Com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres  formou, em 1941, o “Conjunto Carioca”, que chegou a se apresentar em programas radiofônicos em São Paulo. Nesse ano, Ataulfo Alves gravou na Odeon o samba “Não posso viver sem ela”, parceria com Alcebíades Barcelos.

Em 1948, a Mangueira venceu o desfile das escolas-de-samba com um samba seu também feito em parceria com Carlos Cachaça, ” Vale do São Francisco”, mas ele nem dá sinal de vida. Em 1952, Gilberto Alçves gravou na RCA Victor o samba-canção “Sim”, parceria com O . Martins. Foi somente após o reencontro do compositor com o cronista Sérgio Porto, em 1956, que retomou lugar de destaque no cenário da música popular. Primeiro, na Rádio Mayrink Veiga, para onde foi levado pelo próprio Sérgio Porto. Em 1958, foram gravados seus sambas “Grande Deus”, por Jamelão na Continental e “Festa da Penha”, por Ari Cordovil no pequeno selo Vila.

Passou mais um período obscurecido somente voltando a aparecer no cenário musical no início dos anos 1960, ao lado daquela que seria sua companheira até o fim da vida, D. Zica, quando inaugurou o Zicartola, na Rua da Carioca, ponto de encontro de sambistas de morro e jovens de classe média que se interessavam pelo chamado “samba de raiz”. Em 1960, Nuno Veloso gravou na RCA Victor o samba “Vale do São Francisco”, com Carlos Cachaça. No Zicartola, desafiado pelo amigo Renato Agostini, compôs com Elton Medeiros, em cerca de 30 minutos, o samba “O sol nascerá”, que se tornaria logo um sucesso e, anos mais tarde, um clássico. A mesma facilidade para compor experimentaria num samba feito a seis mãos. Compusera com Carlos Cachaça a primeira parte de um samba que decidiram mostrar a Hermínio Bello de Carvalho, que escreveu então os versos da segunda parte, que ele musicou na hora. Nascia assim uma de suas composições mais famosas: “Alvorada no morro”. Em 1964, o samba “O sol nascerá”, foi gravado por Isaura Garcia na Odeon e por Nara Leão no selo Elenco. Em 1965, gravou na Som Livre seu samba “Alegria”. Nesse ano, Elizeth Cardoso gravou na Copacabana o samba “Sim”, com O . Martins e Leny Andrade, Pery Ribeiro e Bossa Três regravaram “O sol nascerá”.

Em 1966, gravou com Clementina de Jesus na Copacabana seu samba “Fiz por você o que pude”. Em 1968, participou em duas faixas do LP “Fala Mangueira”, que teve também gravações de Nelson Cavaquinho, Odete Amaral, Clementina de Jesus e Carlos Cachaça, entre outros, um lançamento da Odeon. Nesse ano, gravou com Odete Amaral na Odeon seu samba “Tempos idos”, com Carlos Cachaça e Cyro Monteiro gravou na RCA Victor o samba “Tive sim”. Ainda em 1968, participou da Primeira Bienal do Samba concorrendo com o samba “Tive sim”, defendido por Cyro Monteiro e classificado em quinto lugar. Em 1970, a Abril Cultural lançou um volume dedicado à sua obra na série “História da música popular brasileira” no qual interpretou o samba “Preconceito”, de sua autoria. Em 1972, Paulinho da Viola gravou na Odeon o samba Acontece” e Clara Nunes, também na Odeon, “Alvorada no morro”. De Carvalho. Em 1973, Elza Soares gravou na Odeon o samba “Festa da vinda”, com Nuno Veloso.

Somente em 1974, aos 65 anos, gravou o primeiro LP inteiramente seu, pelo selo Marcus Pereira, produzido por João Carlos Bozelli, o Pelão e com direção artística de Aluizio Falcão.  A crítica só teve elogios para esse disco no qual interpretou  os sambas “Acontece”, “Tive, sim”, “Amor proibido”, “Alegria”, “Fiz por você o que pude” e “Chega de demanda”, apenas de sua autoria, “Quem me vê sorrindo” e “Vale do São Francisco”, com Carlos Cachaça, “Festa da vinda”, com Nuno veloso, “Corra e olha o céu”, com Dalmo Castelo, “Ordenes e farei”, com Aluísio Dias e “Alvorada”, com Carlos Cachaça e Hermínio B. Carvalho.

Também em 1974, a gravadora Marcus Pereira lançou o LP “História das escolas de samba: Mangueira”, no qual ele interpretou algumas faixas. Pouco depois, durante uma entrevista ao radialista e produtor Luiz Carlos Saroldi, num programa especial para a Rádio Jornal do Brasil AM, apresentou dois sambas ainda inéditos: “As rosas não falam” e “O mundo é um moinho”. Saroldi logo se deu conta de que acabara de ouvir duas obras-primas da música popular. Ainda em 1974, participou do programa radiofônico “MPB – 100 ao vivo”, produzido e apresentado por R. C. Albin em cadeia nacional de emissoras para o Projeto Minerva. Os programas foram editados em oito LPs com o mesmo título, lançados pelo selo Tapecar e neles, ocupou todo um lado de um dos discos, deferência só concedida a dois outros convidados, Luiz Gonzaga e Paulinho da Viola, que estão começava. Também no mesmo ano, participou da série de espetáculos sobre a história da MPB, produzida e também apresentada pessoalmente por R. C. Albin no Ibam, no bairro carioca de Botafogo, em que atuou ao lado da cantora Rosana Tapajós e do flautista Altamiro Carrilho. O show intitulou-se “O sol nascerá” e ali sua vida mais uma ves era narrada em revista.

Em 1976, elas seriam lançadas no seu segundo LP, também pela Marcus Pereira. Na gravação de “O mundo é um moinho”, foi acompanhado ao violão por Guinga, então um rapaz de apenas 20 anos, mas já um talentoso instrumentista. Ainda nesse disco, interpretou suas composições “Minha”, “Sala de recepção”, “Aconteceu”, “Sei chorar”, “Cordas de aço” e “Ensaboa”. Gravou também as canções “Preciso me encontrar”, de Candeia, “Senhora tentação”, de Silas de Oliveira, e “Pranto de Poeta”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Também nesse ano, Clementina de Jesus gravou “Garças pardas”, parceria com Zé da Zilda.

Em 1977, gravou pela RCA Victor o LP  “Verde que te quero rosa”, título de uma de suas músicas, em parceria com Dalmo Castelo. Desse LP fazem parte o samba-canção “Autonomia”, com arranjo e acompanhamento ao piano de Radamés Gnatalli, além de “Nós Dois”, composta especialmente para o casamento com D. Zica, em 1964. Recriou “Escurinha”, samba do mangueirense Geraldo Pereira, falecido prematuramente em conseqüência de uma briga com “Madame Satã”. O texto de apresentação do disco, produzido por Sérgio Cabral, é assinado pelo especialista em samba Lúcio Rangel. Estão presentes ainda os sambas “Desfigurado”, “Grande Deus”, “Que é feito de você”, “Desta vez eu vou” e “Nós dois”, de sua autoria, “Fita meus olhos”, com Osvaldo Vasques e “A canção que chegou”, com Nuno Veloso. Nesse ano, Beth Carvalho gravou com sucesso “O mundo é um moinho” e a Rede Globo apresentou o programa “Brasil Especial”, escrito pelos críticos Sérgio Cabral e R. Cravo Albin, com direção de Augusto César Vannucci inteiramente dedicado a sua vida e obra. No mesmo ano, participou do Projeto Pixinguinha, ao lado de João Nogueira, em shows no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, sempre com os teatros lotados. Também em 1977, foi convidado pela Prefeitura de Curitiba para integrar o juri do desfile das escolas de samba locais, onde, pela primeira e única vez julgou um desfile das escolas que ele ajudara a fundar ao começo dos anos 1930.

Em 1978, gravou com Eliana Pittman na RCA o samba “Meu amigo Cartola”, de Roberto Nascimento, e, com Odete Amaral na EMI-Odeon o samba “Tempos idos”, parceria com Carlos Cachaça. Ainda nesse ano, “As rosas não falam” foi regravada por Valdir Azevedo, João Maria de Abreu, Joel Nascimento e Fagner. Também no mesmo ano, Elizeth Cardoso gravou “Acontece”, na Copacabana e Odete Amaral “Alvorada”, na Emi-Odeon. Também em 1978, apresentou-se em seu primeiro show individual,  “Acontece”, título de uma de suas músicas de maior sucesso, gravada por Gal Costa em 1974, e por Caetano Veloso na década de 1980. Durante a apresentação no Ópera Cabaré, em São Paulo, no mês de dezembro, o show foi gravado ao vivo, por iniciativa de J.C. Botezelli, mais conhecido como “Pelão” – o responsável pelo primeiro disco de Cartola, lançado pela Marcus Pereira. Esse registro ao vivo só sairia em LP dez anos após a morte do compositor.

Em 1979, lançou na RCA o LP “Cartola 70”, também foi produzido por Sérgio Cabral, no qual interpretou seus sambas “Feriado na roça”, “Fim de estrada”, “Enquanto Deus consentir”, “Dê-me graças, senhora”, “Evite meu amor”, “Bem feito” e “Ao amanhecer”, além de “O inverno do meu tempo” e “A cor da esperança”, com Roberto Nascimento; “Ciência e arte” e “Silêncio de um cipreste”, com Carlos Cachaça; “Senões”, com Nuno Veloso e “Mesma estória”, com Elton Medeiros. Aina nesse ano, Nelson Gonçalves e Emílio Santiago regravaram “As rosas não falam”. Em fins de1979, participou de um programa na Rádio Eldorado, de São Paulo, no qual contou um pouco de sua vida e cantou músicas que andava fazendo. Essa entrevista foi posteriormente lançada em LP, nos anos 1980, e depois em CD, com o nome “Cartola – Documento Inédito”.

Em 1980, a cantora Beth Carvalho, gravou “As rosas não falam”, um dos carros-chefe de seu repertório e, “Consideração”, com Heitor dos Prazeres. Com Nelson Cavaquinho, uma outra legenda entre os compositores ligados à Mangueira, compôs apenas “Devia ser condenada”, gravada pelo parceiro no disco “As flores em vida”, produzido pelo poeta Paulo Cesar Pinheiro, em homenagem a Nelson Cavaquinho, na década de 1980. Em 1981, Artur Oliveira concluiria o samba “Vem”, que Cartola deixara inacabado, e seu livro escrito juntamente com Marília Trindade Barboza, a biografia “Cartola, os tempos idos” seria lançado pela Funarte, em 1983. No ano seguinte,  também pela  Funarte, sairia o LP “Cartola, entre amigos”. Ainda na década de 1980, a gravadora Som Livre produziu o disco “Cartola -Bate outra vez”, onde intérpretes dos mais variados estilos, como Gal Costa, Cazuza, Luiz Melodia, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, entre outros, interpretam algumas de suas composições. A cantora Marisa Monte viria a incluir em seu repertório o lundu “Ensaboa”, composto em 1975 e gravado pelo compositor em seu segundo LP.

A cantora Claudia Telles, filha de Silvinha Telles, um dos ícones da Bossa Nova lançaria, em 1995, um CD no qual interpreta composições de Cartola e Nelson Cavaquinho. Em 1997, a Editora Globo lançou o CD e o fascículo Cartola, na Coleção “MPB Compositores” (Nº 12). No ano seguinte, Elton Medeiros e Nelson Sargento gravaram o CD “Só Cartola”, que lançaram em shows bastante aplaudido em casas noturnas como o Mistura Fina, no Rio de Janeiro. Elton Medeiros também se apresentou com a cantora Márcia no espetáculo “Cartola 90 anos”, que resultaria em CD lançado pelo SESC/SP, ainda em 1998. No mesmo ano, o grupo Arranco (ex- Arranco de Varsóvia) lançou o CD “Samba de Cartola”, pela Dubas, gravadora criada pelo letrista Ronaldo Bastos.

Em 2001, a RCA Victor, comemorando 100 anos, lançou em CD o disco “Cartola – Verde que te quero rosa”. Nesse ano foi fundado o Centro Cultural Cartola tendo por base a obra do compositor. No ano seguinte, o cantor Ney Matogrosso lançou em show no Canecão o CD “Cartola” com repertório todo dedicado ao compositor da Mangueira.

Em 2003, sua neta descobriu numa pasta vários letras inéditas que deverão ser musicadas por antigos parcerios e lançadas em CD. Ainda em 2003, a cantora Beth Carvalho lançou o CD “Beth Carvalho canta Cartola”, coletânea de vários sucessos do sambista mangueirense por ela interpretados em seus discos. Nesse trabalho, produzido pelo crítico musical e escritor Rodrigo Faour, foram incluídas “Camarim”, “Consideração”, “Motivação”, “Cordas de aço”, “Acontece” e “O mundo é um moinho”, entre outras.

Em 2004, estreou no Centro Cultural Banco do Brasil o espetáculo musical “Obrigado Cartola”, de Sandra Louzada, com direção de Vicente Maiolino, contando a vida do compositor e apresentando sambas clássicos como “Quem me vê sorrir”, “Sala de recepção” e “Alvorada”.No espetáculo o compositor foi vivido pelo ator Flávio Bauraqui. No mesmo ano, foi lançado pela Editora Moderna o livro “Cartola”, de Monica Ramalho. Em 2007, foi lançado no Cine Odeon o filme “Cartola – música para os olhos”, com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Em 2008, esquecido no ano de seu centenário pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira que ajudou a fundar, foi, no entanto, homenageado pela escola de Samba Unidos do Tuiutí com o enredo “Cartola, teu cenário é uma beleza” que ajudou a escola de São Cristóvão a subir para o grupo de Acesso A. Ainda em 2008, dando início às comemorações do centenário de seu nascimento foram realizados na Sala Cecília Meireles dois concertos com a Orquestra de Solistas Brasileiros, Rildo Hora e apresentação de Ricardo Cravo Albin. Nesse ano, dentro das comemorações pelo seu centenário foi lançado pelo selo Biscoito Fino o CD “Viva Cartola – 100 anos” que incluiu gravações lançadas em outros discos com destaque para os sambas “Todo o tempo que eu viver” cantado por ele próprio, Paulinho da Viola e As Meninas da Mangueira, faixa do disco “Tom na Mangueira”, “Festa da Penha” interpretada por Marcos Sacramento, “O mundo é um moinho”, cantado por Pedro Miranda e grupo Tira Poeira, e a versão intrumental de “Amor proibido” tocado por Zé Paulo Becker. A única faixa inédita do disco é “Basta de clamares inocência” gravada por Martinália. No dia em que completaria 100 anos de nascimento chegou às lojas o CD independente “Cartola para todos” do produtor paulista Alvaro Fernado que levou dez anos para concluir o disco. O CD contou com as participações de 36 artistas entre intérpretes e instrumentistas, entre os quais estão o violonista Emerson Villani, o clarinetista Paulo Moura e o percussionista Marcos Suzano. Foram interpretadas 13 composições do mestre mangueirense: “Minha” na voz de Lupa Mabuze e “O sol nascerá”, na de Mané Messias, em versões mais ligadas ao samba, “Alvorada” que ganhou uma versão samba-funk-eletrônica de Rica Caveman, “Ensaboa” em versão forró de Enok Virgulino do Trio Virgulino, “Corra e olhe o sol” que a cantora Bluebell registrou em forma de samba com guitarras, “As rosas não falam” que ganhou uma versão folk de Tony Gordon, e a versão semi jazzística de Wanda Sá para  “O mundo é um moinho”. Ainda fez parte do CD um depoimento de dez minutos que o compositor havia feito para o álbum “Documento inédito” da gravadora Eldorado. Também no dia em que completaria 100 anos de nascimento foi feita uma homenagem a ele no Centro Cultural Cartola, na Rua Visconde de Niterói na Mangueira quando ritmistas de várias escolas de samba tocaram uma alvorada e tamborins. O evento contou ainda com as participações da Orquestra Sinfônica da Banda do Corpo de Bombeiros e da Orquestra de Violinos Cartola Petrobras. No mesmo evento foi lançado o CD “Falabella de Cartola”, da cantora e atriz Vanessa Falabella, que cantou acompanhada do pianista americano Cliff Korman. Foi servida uma feijoada e lidas poesias do compositor. Completando o ciclo de homenagens foi realizado no Canecão, Rio de Janeiro, um show em sua homenagem  no qual artistas como Alcione, Maria Rita, Beth Carvalho, Emílio Santiago, Nelson Sargento, Leci Brandão, Sandra de Sá, Jorge Vercillo, Rildo Hora, Dorina, Velha Guarda da Mangueira e Orquestra de Violinos Cartola Petrobras interpretaram as composições do sambista. Foi também apresentado um especial do programa “Som Brasil” da TV Globo no qual Pedro Moraes, Teresa Cristina, Vanessa da Mata, Alcione relembraram clássicos do mestre. Ainda em sua homenagem a teóloga e professora da PUC, Maria Clara Bingemer escreveu uma crônica intitulada “Cartola ou a linguagem das rosas” na qual afirmou: “Ah, senhores, é obstinada a musa, entrega-se a quem quer e só aos que elege. Assim foi com Cartola, Agenor de Oliveira, servente de pedreiro e pouco letrado. Foi-lhe dado conhecer os segredos da poesia e o enredo das palavras. Sob a inspiração de seu violão, falava sobre tudo: homens, mulheres, natureza, cidade e rosas. Mas as rosas não falam, não é isso mesmo que Cartola disse em seu imortal samba? Pois bem, se como dizia Gertrude Stein “uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”, a partir de Cartola as rosas falam, sim senhor. Falam e dizem coisas das quais até Deus duvida”. Em 2009, foi lançado o DVD “Cartola e Dona Zica” da série “MPB especial” apresentado por Fernando Faro. No programa o compositor cantou clássicos de sua autoria como “Sim”, “Ao amanhecer”, “Acontece”, “Tive sim”, “O sol nascerá” e outras, além de contar histórias sobre sua vida e sobre a Escola de Samba Mangueira. O programa original foi ao ar em 1973. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 7 estão suas próprias interpretações acompanhando-se, ao violão, tão somente para os sambas “Divina dama” e “Acontece”, de sua autoria; “Quem me vê sorrindo”, com Carlos Cachaça; “O sol nascerá”, com Elton Medeiros, e “Alvorada”, com Hermínio Bello de Carvalho e Carlos Cachaça. Em 2013, foi lançado o  livro “Divino Cartola – Uma vida em verde e rosa”, que sem trazer informações biográficas novas é um apanhado de informações sobre a vida do compositor mas que traz como novidade imagens dos manuscritos produzidos por ele, alguns inéditos. O livro é acompanhado de um CD com a gravação do último show dele, realizado no Ópera Cabaré, em São Paulo, em 1978. Em 2017, estreou no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, o espetáculo musical “Cartola – O Mundo é um moinho”, estrelado pelo ator Flávio Bauraqui e contando com dramaturgia do jornalista Artur Xexéo e mais 17 atores. O espetáculo chegou ao Rio depois de vitoriosa temporada em São Paulo. Para a peça foi composto com exclusividade por Arlindo Cruz e Igor Legal o samba-enredo “Mestre Cartola”. Ao longo do espetáculo são revividos episódios da vida do compositor, um dos fundadores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Em 2018, começou a ser preparada pelo jornalista Luiz Fernando Vianna uma nova biografia do compositor a ser lançada em 2020 por ocasião dos 40 anos de sua morte. Em 2019, a escritora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida veio ao Brasil lançar, durante a Festa Literária de Parati – FLIP, seu livro “Luanda, Lisboa, Paraíso”, que foi inspirado no samba “O mundo é um moinho”, sendo que o personagem principal do romance se chama Cartola de Souza.

Discografias
2021 Cultura Música Ltda., Ipanema Discos Ensaio

Ao vivo

2015 EMI/ Universal Music CD Tempos idos
2013 Kuarup CD Cartola - Ao Vivo: Seu último show gravado
2008 Som Livre CD Cartola - Bate outra vez. Vol.2
2007 EMI CD Acontece
2006 Sony / BMG CD Cartola

Série "Maxximum"

2005 EMI Cartola

Série "Nova Bis"

2004 EMI CD Cartola

Série "O Talento de"

2004 EMI CD Viva
1999 EMI CD Cartola

Série "Raízes do Samba"

1995 Eldorado CD Cartola - Documento Inédito
1991 RGE LP Cartola ao vivo

Na contra-capa, texto de Arley Pereira.

1989 RCA CD Pranto de poeta
1988 Som Livre LP Cartola - Bate outra vez...
1984 Funarte LP Cartola, entre amigos

Este disco faz parte do Projeto Almirante, em homenagem a Henrique Foréis Domingues. Encarte com texto de Jairo Severino, Marília Trindade Barboza da Silva e Arthur Loureiro de Oliveira Filho. Contém as letras das músicas e a explicação do projeto.

1982 Estúdio Eldorado/Série Documento Inédito LP Cartola - Documento Inédito

Exemplar promocional. Na contra-capa, texto de Aluízio Falcão, datado de junho de 1982, São Paulo. Um encarte da Divisão de divulgação, explicando entre outras coisas que foi a última vez que Cartola entrou num estúdio de gravação antes de morrer.

1980 RCA Victor LP Adeus, mestre Cartola

Encarte com as letras das músicas. Na contra-capa, texto de Moacyr Andrade. Exemplar promocional.

1979 RCA Victor LP Cartola 70 anos

Exemplar promocional. Na contra-capa, texto de Jota Efegê.

1977 Abril Cultural 33/10 pol. Cartola

Este disco faz parte da coleção “Nova História da Música Popular Brasileira” e vem acompanhado de fascículo, fotos, ilustração de Elifas Andreato e as letras das músicas.

1977 RCA Victor LP Verde que te quero rosa

Na contra-capa texto de Lúcio Rangel.

1976 Discos Marcos Pereira LP Cartola

Na contra-capa, textos de Juarez Barroso, datado de abril de 1976.

1974 Discos Marcos Pereira LP Cartola

Na contra-capa, texto de Sérgio Cabral.

1970 Abril Cultural/Col. História da MPB 33/10 pol. Cartola e Nelson Cavaquinho

Este disco faz parte da coleção "História da Música Popular Brasileira", acompanha com fotos, textos sobre os compositores e as letras das músicas

1968 Odeon LP Fala Mangueira

Com Carlos Cachaça, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Odete Amaral.

Obras
A canção da saudade
A canção que chegou (c/ Nuno Veloso)
A cor da esperança (c/ Roberto Nascimento)
A mesma estória (c/ Elton de Medeiros)
Acontece
Alegria
Alvorada no morro (c/ Carlos Cachaça e Hermínio Belo de Carvalho)
Amiga oculta (c/ Dalmo Castelo)
Amor proibido
Ao amanhecer
Apelo
Arremedo de um nada (c/ Nuno Veloso)
As rosas não falam
Autonomia
Basta de clamares inocência
Bem feito
Canta esta canção
Catedral do inferno (c/ Hemínio Belo de Carvalho)
Chega de demanda
Ciência e arte (c/ Carlos Cachaça)
Consideração (c/ Heitor dos Prazeres)
Cordas de aço
Corra e olhe o céu (c/ Dalmo Castelo)
Covardia (c/ Dalmo Castelo)
Decadência (samba)
Desfigurado
Desta vez eu vou
Disfarça e chora (c/ Dalmo Castelo)
Divina dama
Dê-me graças, senhora
Enquanto Deus consentir
Ensaboa
Eu sei
Evite meu amor
Feriado na roça
Festa da Penha (c/ Adalberto Alves de Sousa)
Festa da vinda (c/ Nuno Veloso)
Fim de estrada
Fita meus olhos (c/ Baiaco)
Fiz por você o que pude
Fundo de quintal (c/ Cláudio Jorge e Hermínio Belo de Carvalho)
Garças pardas (c/ Zé da Zilda)
Grande Deus
Injúria (c/ Elton Medeiros)
Labaredas (c/ Hermínio Belo de Carvalho)
Mangueira tem uns astros
Minha
Motivação (c/ Dalmo Castelo)
Musquitim (c/ Dalmo Castelo e Xico Chaves)
Na floresta (c/ Sílvio Caldas)
Não faz, amor (c/ Noel Rosa)
Não posso viver sem ela (c/ Bide)
Não quero mais (c/ Zé da Zilda e Carlos Cachaça)
Nós dois
O inverno do meu tempo (c/ Roberto Nascimento)
O mundo é um moinho
O sol nascerá (c/ Elton Medeiros)
Ordenes e farei (c/ Aluísio Dias)
Passarada (c/ Dalmo Castelo)
Peito vazio (c/ Elton de Medeiros)
Pelo nosso amor
Perdão, meu bem
Por quem os anjos cantam (c/ Carlos Cachaça)
Porque vamos chorando
Pouco importa
Preconceito
Pudesse meu ideal (c/ Carlos Cachaça)
Qual foi o mal que eu te fiz?
Que infeliz sorte
Que sejam bem-vindos
Que sejas bem feliz
Que é feito de você?
Quem me vê sorrindo (c/ Carlos Cachaça)
Sala de recepção
Sei chorar (samba)
Senões (c/ Nuno Veloso)
Silenciar a Mangueira
Silêncio de um cipreste (c/ Carlos Cachaça)
Sim (c/ Osvaldo Martins)
Sofreguidão (c/ Elton Medeiros)
Soldado do amor (c/ Nuno Veloso)
Tempos idos (c/ Carlos Cachaça)
Tenho um novo amor
Tive, sim
Todo amor (c/ Carlos Cachaça)
Vai amigo
Vale do São Francisco (c/ Carlos Cachaça)
Vem (c/ Arthur de Oliveira)
Verde que te quero rosa (c/ Dalmo Castelo)
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB – A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário biográfico da música popular. Rio de Janeiro; Edição do autor, 1965.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

FUSCALDO, Chris. Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018. 2ª ed. Idem, 2020.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

RAMALHO, Monica. São Paulo: Moderna, 2004.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

SILVA, Marília Barboza da e FILHO, Arthur de Oliveira. Cartols – Os tempos idos. Rio de Janeiro: Funarte, 1983.

VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.

Crítica

A música de Cartola é pura elegância. Ou seja, se elegância e classe pudessem ser medidas em traje inglês formal, à cartola do Cartola só faltariam mesmo a luva e o “smoking”.

Nem é pra menos. Cartola de Mangueira é o verdadeiro príncipe do samba urbano carioca. Príncipe no esgrimir versos para suas músicas – afinal, quem fez versos como “as rosas não falam/ simplesmente as rosas exalam o perfume/ que roubam de ti” —, é poeta com P maiúsculo. Príncipe na maneira discreta e sem firulas com que fazia sambas – espontâneos e naturais, como se estivesse degustando uma dose de “scotch” 12 anos, na intimidade de uma birosca.

Príncipe, finalmente, no trato pessoal. Quem o conheceu tão bem como eu, terá sido testemunha de um dos convívios mais amáveis e ternos que a MPB produziu.

Cartola, o nosso Agenor de Oliveira, nascido no Rio há mais de 90 anos atrás, tinha a delicadeza de um Pixinguinha, a elegância natural de um Ataulfo Alves e a dignidade de um mestre-sala — daquele do samba do Aldir Blanc.

Quando convidei Cartola em 1975 para gravar todo um programa de meia hora na Rádio MEC sobre sua vida e obra para a série “MPB-100” — depois editada em oito elepês, que resumiram a história da música popular – ele me respondeu: “Claro que eu vou, mas você não acha que há gente melhor que eu por aí?” “Então me diga quem!”, devolvi, fazendo-lhe uma provocação. Cartola não se fez de rogado e desfilou uma relação de mais de 20 nomes que começavam com Nélson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Herivelto Martins e terminavam com Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Candeia.

Uma outra vez, visitando-lhe no barraco ao sopé do morro da Mangueira, encontrei-o sentado numa cadeira, pernas cruzadas, atracado ao violão, de onde saíam maviosos acordes. Ao lado, numa tosca mesinha, um copo de cerveja. A impressão que me ficou daquele homem simples, modestamente vestido e com a camisa entreaberta no tórax magro, era a de um fidalgo. Por quê? Sei lá. E como é que vou explicar essas pessoas tão mágicas e raras? Cartola – era ele polidíssimo e discretamente afável, como convém a um príncipe – quase que sussurrou para Zica: “Capricha aí, Zica, no molho de ferrugem da carne assada, que hoje temos convidado muito especial.”

Assim era Cartola. O modesto ex-pedreiro, depois desempregado, depois lavador de carro, depois contínuo do gabinete do Ministério da Indústria – ali no prédio da “Noite”, na Praça Mauá, onde o conheci fardado, abrindo portas —, mas sempre com a tal elegância de um mestre-sala. Assim era Cartola, que fundou a Mangueira e que lhe escolheu as cores verde e rosa (repudiadas durante anos pelo preconceito burguês, até que um costureiro francês as usou numa coleção).

Ricardo Cravo Albin