Cantora.
Nascida no Rio de Janeiro, sendo irmã mais famosa de Carmen Miranda. Assim como as outras irmãs (além de Carmen, havia também Cecília, que não seguiu carreira como cantora), gostava, desde pequena, de cantar em casa, alegrando os freqüentadores da pensão que a mãe, a imigrante portuguesa Maria Emília, dirigia no Rio de Janeiro. Casou-se aos 25 anos com o comerciante Gabriel Richaid, por quem praticamente abandonou a carreira. Logo depois, o casal decidiu morar alguns anos nos Estados Unidos com Carmen Miranda. Voltou ao Brasil em 1952. Ficou viúva na década de 1990. Morreu de causas naturais, na Zona Sul do Rio de Janeiro, depois de infermidade qua a deixou no leito por longo tempo. Foi enterrada no cimitério São João Batista, mas não no famoso mausoléo de sua irmã.
Na opinião de muitos, teria sido a melhor voz entre as irmãs Miranda. O destino a fez, no entanto, iniciar no rádio à sombra do sucesso da irmã mais velha. Esse fato foi, de certa maneira, um entrave para sua carreira, já que a então jovem cantora se tornou alvo de inevitáveis comparações. Foi das cantoras que mais discos gravaram na década de 1930, depois de sua irmã Carmen Miranda. Ainda aos 18 anos foi convidada por Josué de Barros (que já havia lançado Carmen Miranda) para cantar um número na Rádio Mayrink Veiga. Com o sucesso, passou a se apresentar no “Programa Casé”, na Rádio Philips.
Em 1933, foi levada pelo próprio Josué de Barros para gravar seu primeiro disco na Odeon, fazendo dupla com o grande ídolo do rádio, Francisco Alves, na marchinha “Cai, cai, balão”, de Assis Valente e no samba “Toque de amor”, de Floriano Ribeiro de Pinho. O disco fez tanto sucesso, que, no mês seguinte, a Odeon lançou outro sucesso com a dupla, o fox “Você só… mente”, dos irmãos Noel e Hélio Rosa. Ainda no mesmo ano de estréia, no qual lançou onze discos, gravou as marchas “Ladrão de corações”, de Valfrido Silva e Wilson Batista, e “É assim que se vai no arrastão”, de Ary Barroso, e o samba “Sou da comissão de frente”, de Assis Valente. Ainda no mesmo ano, gravou um de seus maiores sucessos, a marcha “Se a lua contasse”, de Custódio Mesquita.
Em 1934, gravou, entre outras composições, o samba “Sem você”, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, e “Foi numa noite de luar”, de André Filho, as marchas “Quando eu queria você”, de Assis Valeste e Milton Amaral e “Balança coração”, de André Filho, e o samba-canção “Moreno cor de bronze”, de Custódio Mesquita. No mesmo ano, gravou com João Petra de Barros a marcha “Vai subindo…vem caindo…”, de Alberto Ribeiro e o samba “Se a sorte me ajudar”, de Germano Augusto. Também em 1934, com apenas 19 anos, gravou em dupla com André Filho a marchinha vencedora do concurso oficial de carnaval de 1935 e que se tornaria (em 1960) hino oficial da cidade do Rio de Janeiro: “Cidade maravilhosa”, do próprio André Filho. Nessa época, a mais jovem das Miranda já era reconhecida como “cartaz do rádio”. Passou então a cantar em dupla com a irmã. Apresentou-se, ainda em 1934, com Carmen, João Petra de Barros, Jorge Murad e Custódio Mesquita na Rádio Record e no Teatro Santana, em São Paulo. Com Carmen e o Bando da Lua, fez uma temporada em outubro do mesmo ano na Rádio Belgrano, de Buenos Aires, Argentina, com grande repercussão.
Em 1935 estreou no cinema no filme “Alô, Alô Brasil”, dirigido por Wallace Downey, com argumento de João de Barro e Alberto Ribeiro, no qual interpretou o sucesso “Cidade maravilhosa” e a marcha “Ladrãozinho”, de Custódio Mesquita. No mesmo ano, gravou a marcha “Não faltará ocasião”, de Ismael Silva e o samba “Boa viagem”, de Noel Rosa e Ismael Silva. Gravou também dois discos em duetos, o primeiro, com João Petra de Barros, cantando a marcha “O tempo passa”, de Custódio Mesquita e Paulo Orlando e o samba “De madrugada”, de Vicente Paiva e Haroldo Lobo. No segundo, com André Filho, cantou a marcha “Ciganinha do meu coração”, e o samba “O que você me fez”, as duas de André Filho. Gravou, ainda em 1935, a marcha junina “Onde está seu carneirinho?”, de Custódio Mesquita, cantada por ela em outro filme de Downey, “Estudantes”. Em outro disco, lançou uma das primeiras interpretações do samba-choro (choro cantado) “Fiz castelos de amores”, de Gadé e Valfrido Silva. Em 1936, gravou duas composições de Assis Valente, a marcha “Vem comigo”, parceria com Jocelino Reis, e o samba “Ao romper da aurora”, parceria com Leopoldo Medeiros. No mesmo ano, participou de cena musical antológica do filme “Alô, Alô, Carnaval”, de Ademar Gonzaga e Wallace Downey, o único filme da série dos musicais na década de 1930, que teve uma cópia preservada. Na cena, cantou, ao lado da irmã Carmen e com o acompanhamento da Orquestra de Simon Bountman, a célebre “Cantores do rádio”, de Lamartine Babo, João de Barro e Alberto Ribeiro. No mesmo filme, canta sozinha, acompanhada do regional de Benedito Lacerda, o samba “Molha o pano”, de Getúlio Marinho e de A. Vasconcelos. Também no mesmo ano, gravou as marchas “Não apoiado”, de Ismael Silva e “Bacharéis do amor”, de André Filho, de quem gravou o samba “Quero ver você sambar”. Ainda em 1936, gravou o único disco com a irmã Carmen Miranda, registrando a marcha “Cantores do rádio”, de João de Barro, Alberto Ribeiro e Lamartine Babo, e o samba “Rancor”, de A . Rocha e Paulo de Frontin Werneck.
Em 1937, gravou para o carnaval duas marchas da dupla João de Barro e Alberto Ribeiro, “Trenzinho do amor” e “Amores de carnaval”. No mesmo ano, gravou os sambas “Deixa a baiana sambar”, de Valdemar Pujol e Portelo Juno; “Porque você jurou”, de Sinval Silva, e “E foi assim”, de Alcebíades Barcelos e Leonel Azevedo. Gravou no mesmo período, a marcha “Deixa está jacaré”, de Assis Valente e Pedro Silva, e o samba “Por causa de você”, de Assis Valente. No mesmo ano excursionou pela Argentina e pelo Uruguai, ao lado de Carmen e do Bando da Lua.
Em 1938, entre outras gravações, gravou duas marchas de Ary Barroso, “A cigana lhe enganou”, parceria com Gomes Filho, e “O meu dia há de chegar”, parceria com Alcyr Pires Vermelho. Gravou também a marcha “Na tua casa tem…”, de André Filho e Heitor dos Prazeres, e o samba “Chorei por teu amor”, de André Filho. Também em 1938, gravou os sambas “Vem pro barracão”, de Nelson Petersen e Oliveira Freitas, “Vai acabar”, de Nelson Petersen e “Cenário de revista”, de Alberto Ribeiro, além da marcha “Dia sim, dia não”, de Alberto Ribeiro. Em junho de 1939, gravou seu último disco pela Odeon, com a marcha “Não há ninguém mais feliz..”, de Alcyr Pires Vermelho, e o samba “Você sambou pra mim”, de Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro. No mesmo ano, foi contratada pela Victor, onde estreou com a marcha “Entra Vasco” e o samba “Coração sonhador”, ambas de Alberto Ribeiro e Antônio Almeida. No mesmo ano, gravou pela Victor e para o carnaval a marcha “Menina do regimento”, de João de Barro e Alberto Ribeiro. Essa marchinha foi cantada por ela no filme “Banana da terra”, no mesmo ano. Ainda em 1939, gravou o samba-canção “Roubaram meu mulato”, de Claudionor Cruz, o samba-choro “Teus olhos”, de Roberto Martins e Ataulfo Alves e o samba “Acarajé…ô”, de Ademar Santana e Leo Cardoso, este último, em dueto com Carlos Galhardo.
Em 1940, gravou a batucada “Não vai Zezé”, de Ataulfo Alves, e o samba “Você partiu”, de Alcebíades Barcelos e Armando Marçal. No mesmo ano gravou seu último disco pela Victor, com os sambas “Paulo, Paulo”, de Gadé e Grande Otelo (cujo nome não aparece no selo), e “Batata frita”, de Ciro de Souza e Augusto Garcez. Já nos Estados Unidos, para onde foi levada por sua irmã Carmen, já uma estrela de Hollywood, participou do filme “Você já foi à Bahia?”(“Saludo amigos”), de Walt Disney, ao lado de Zé Carioca, cantando “Os quindins de iaiá”, de Ary Barroso. Nos EUA fez seis gravações para a Decca (quatro foram lançadas em 1941, as outras só em 1975, em LP da MCA no Brasil). Participou de programas de rádio ao lado de Orson Wellles e Rudy Valee; de espetáculos no Teatro Roxy e na Boate Copacabana em Nova York.
Voltou ao Brasil, em 1952 e lançou pela Continental os sambas “Risque”, que seria sucesso logo depois com Linda Batista, e “Faixa de cetim”, ambos de Ari Barroso. Em 1955, lançou oito antigos sucessos seus em LP da Sinter. Em 1956, participou do “show” de Carlos Machado “Mr. Samba” em homenagem a Ary Barroso. No mesmo ano, gravou mais dois discos pela Odeon, no primeiro, cantou sozinha o samba “Guanabara”, de Vadico e Aloísio de Oliveira e, com Aloísio de Oliveira, cantou “Amor e matrimônio”, de Van Heusen e Cahn, com versão de Haroldo Barbosa. No segundo disco, gravou os sambas “Creia em mim” e “Banzé de cuia”, os dois da dupla Valfrido Silva e Gadé.
Em 1957, gravou pela Sinter, a marcha “Cai, cai balão”, de Assis Valente, e o maxixe “Petisco do baile”, de Gadé e Almanir Grego. Ao todo gravou 81 discos e 161 músicas. Em 1962, participou na TV, do Cassio Muniz Show, numa de suas esporádicas apresentações. Em 1990, participou do filme de Cacá Diégues “Dias melhores virão”, cantando o fox “Você só…mente”, de Noel e Hélio Rosa. Em 1994 gravou para o “Songbook de Ary Barroso” (Lumiar), junto com Sílvio Caldas, o samba “Quando eu penso na Bahia”, de Ary Barroso e Luís Peixoto. Em 1995, participou da homenagem a Carmen Miranda, promovida pelo Lincoln Center, em Nova York. Em 1999, quando das celebrações dos noventa anos de Carmen Miranda, teve ativa participação em entrevistas para rádio e televisão, além de inaugurar mostras comemorativas em honra da irmã. Faleceu aos noventa anos de causas naturais em seu apartamento no Rio de Janeiro sendo sepultada em cerimônia familiar no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro. Em 2012, suas interpretações para as músicas “Tempo passa”, de Custódio Mesquita e Paulo Orlando, gravada em dueto com João Pétra de Barros, e “Jardineiro do amor”, de Custódio Mesquita e Zeca Ivo, e “Podia ser melhor”, “Eu sou pobre… Pobre… Pobre… “, “Juntei os meus trapinhos”, “Sobe balão”, “Onde está seu carneirinho” e “Ladrãosinho”, todas de Custódio Mesquita, foram incluídas no CD “Grandes vozes cantam Custódio Mesquita”, lançado pelo selo Revivendo.
(Com Carmen Miranda)
(Com André Filho)
(Com João Petra de Barros)
(Com João Petra de Barros)
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